
Contornou os lábios provando-os, como se buscasse um vestígio qualquer das palavras tantas vezes pronunciadas. Apenas o silêncio encontrou...
Uma ausência dolorida de sons, tal qual uma estrada que aguarda passos que jamais virão. Os olhos, mesmo pousados sobre a paisagem do real, ainda insistiam em vaguear pelos caminhos de outrora. ..
Parecia-lhe agora distante aquele sentimento, jamais vivenciado. Engoliu em seco, a sensação que lhe enchia as mãos de vazios. ...
Tentou distrair a saudade que parecia desejá-la como companhia. O cair da tarde findava por lhe trazer as lembranças que tanta evitava. Cerrou os olhos, querendo desprender-se das imagens que vistavam todos os seus sentidos..
Inútil procurar desvencilhar-se, do que em si respira e de si se alimenta..
Acariciou o rosto...sentiu as mãos arderem. ..
Cada parte do seu corpo, respondia à saudade que a deixava sempre a mercê, do que se fez sonho e amarga fantasia. Deixou os olhares percorrerem os corredores da memória.
Um sorriso beijou-lhe a boca, enquanto encostava o rosto à solidão do lembrar. ..
Muitas vezes, já se havia prometido não mais permitir que alguem invadisse os pensamentos ou lhe tirasse a quietude...
Mas com o amor não existe hora combinada, pedido de licença, juramento ou ameaça de despejo...
Ele possui passaporte e transita livremente em todos os estados do corpo, da alma, deixando pegadas, fotografando sensações, emudecimentos, arrepios e tremores.
Havia um gosto de beijo acordando-lhe os lábios e abraços a rondar o leito dos seus braços. ..
Ouvia o som de uma carícia, como a buscar o colo de suas mãos. Seus olhos despiram uma lágrima, enquanto tratava de cobrir a emoção com o sono. Dobrou todas as palavras que desejavam ser confissão. No colchão do silêncio deitou o amor, já amarrotado por tanta espera...pelas mãos da noite, viu ser desenhada a penumbra da sua solidão.
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