
Sao horas tardias nesta madrugada de tantas emoções.. dores , lágrimas..
Tempo dos porques.. do será sempre assim?..Talvez a felicidade seja um bem que nao lhe foi destinado..
Ela amou sempre. Do início ao fim. Eles não a compreenderam. E mesmo que a compreendessem, perderiam-na , porque ela saía sempre antes do fechar das cortinas e já se ia ao longe tropeçando em palavras tardias, rolando pela geografia dos desertos áridos, das montanhas de areia que lhe arranhavam a boca num beijo sangrento... mas preferia isso a ter de ouvir um “preciso de um tempo”, “não vai dar mais...” ou coisas do tipo...
Naufragou muitas vezes na própria resistência. Teve saudades da chuva, do líquido viscoso escorrendo pelas estações das águas, sentiu falta dos olhos que a desvendaram como uma lupa e das carícias que se perderam num vento sem causa. Morreu várias vezes com o corpo cravado de dúvidas e reviveu sem nenhuma certeza. Empobreceu por ter perdido o sonho e por compreender não haver nada mais a perder...
Os seus olhos, agora, são donos de uma paisagem horizontal que a corta ao meio e dói cada segundo que traspassa seu corpo habitado pela mais nocturna das noites...
Vive descalça para se energizar ou para ver se desatar o nó do peito..
permanece atenta ouvindo vozes fragilizadas cortando o ar, amores fracos que terminam com o alvorecer e deixam expostos uma ferida duvidosa, uma explosão surda e silenciosa que quer sair pela garganta,arrebentar as portas, arrancar do corpo uma dor , mas a lágrima é engolida com um sorriso falso e com a esperança de amanhã talvez outro alguém mais interessante.
Vê passar mulheres que tentam..pôr as coisas onde não alcançam... mulheres a tentar assimilar a felicidade passageira de uma noite, guardando o amargo de um beijo, a acidez de uma bebida que a fará dormir, durante o dia, o sono do esquecimento, fingindo nada ter acontecido e que, o resultado não foi assim tão doloroso.
Vê um casal que entra num estabelecimento..Acima uma placa com os dizeres “otel”, a primeira letra já se havia apagado. Que triste! ..
Um ar de desesperança, um ar morno, um reflexo das letras na poça d`água. De repente uma mulher que nao quer esquecer ., , de repente uma mulheer que lava o rosto com agua fria , roupas jogadas pelos cantos, memórias pequenas esparramadas pela cama, coisas misturadas, ressentidas... e uma teia de aranha que vai crescendo no pensamento, mas ela adia a angústia, vira o vestido do avesso, calça o par de sapatos que ele nem reparou... engole o resto de líquido do copo e faz cara de mulher satisfeita...de repente sente-se burra, idiota e sorri alto tentando disfarçar o embaraço, tentando não demonstrar que no fundo é um bicho desamparado e joga palavras ao vento para que ele não tenha pena e não se dê conta de que debaixo das curvas profundas bate um coração como um brilhante explodindo em cores. Talvez ele nunca tenha conhecido isso..
E ela ali a jogar com o destino..a jogar com as possibilidades. ..
A rua lá embaixo deprime-a..Será melhor deixar a madrugada morrer na avenida com um pouco de frio, um pouco de marginalidade, um pouco de insónia, um pouco de silêncio nas almas multifacetadas e vai dormir com a banda sonora do vento zunindo no vidro...
para todas as mulheres. porque tu e eu somos muito mais do que isto...
Nenhum comentário:
Postar um comentário