
Deparei comigo olhando um espelho, notando uma imagem putrefacta…de dor, de pena, desgastada…
Um vazio louco afagava o meu corpo e cortava a minha respiração, vendo uma necessidade ofuscante de explodir, de partir para um local onde nada sentisse…Um local onde o fogo acariciasse os meus cabelos, a água não se fizesse sentir, tudo não passasse de indiferença…
O buraco…O buraco fundo onde entrei e que me impede de subir, pois cada corda é pura imaginação, cada uivo de socorro é um eco, cada sofrimento um prestígio…
Este buraco são apenas os meus restos, os restos de alguém que nada teme, nada pede, nada sente…alguém que deu tudo o que tinha e se deixou ir abaixo, alguém que tentou ajudar e falhou…alguém que apenas queria ver mais um sorriso, um afecto, um abraço, sentir um beijo, uma ternura, amizade, amor…
Por isso pergunto-me, o que sou afinal? Ser humano? Não me parece, pois este sente mas é demasiado egoísta para o partilhar…Animal? Puro e indefeso demais para tal comparação…Objecto? Não sente, não pensa, não deseja…Quem sabe?!?!? Sinceramente a mim não me compete decifrá-lo…
Desejo que me chamem, me impeçam de cair mais fundo, me puxem dando-me um braço onde me possa apoiar, um ombro que me segure as lágrimas…
Por muito que sofra, muito me custe dizê-lo ou fazê-lo, é o que sinto. Assim afirmo com todas as certezas que por muito mal que me sinta, mais fundo que bata, por mais vítima que me torne, há sempre alguém que precisará ainda mais de mim e por quem abdicarei de tudo…tudo mesmo…Não me refiro a alguém em particular, mas a uma pessoa que não se saiba dar o valor apropriado, um amigo que precise do meu ar, água e alimento para sobreviver…Daria a vida por estas pessoas porque, quanto mais grave for o meu problema, o meu motivo de tristeza, em nada se comparará aos dos que precisam de mim, pois serão grandiosos e tomarão conta de todo o corpo e alma que carrego…
Chamem-me insensata, louca, que não mede as consequências dos seus actos, mas aqui me apresento tal e qual como sou!
Amanhã é mais um dia e sorrirei ao acordar por poder voltar a ver os olhares dos que me rodeiam, a beleza que os caracteriza, o odor que os diferencia, tornando-os especiais, únicos…poderei observar os seus gestos, acompanhar os seus feitos, felicitando-os por serem quem são…
E aquele buraco, por infinito que seja, será sempre uma recordação aberta, que por vezes explode, transparecendo tudo o que vai cá dentro, destruindo-me aos poucos…Aí recomponho-me novamente e cada vez se tornará mais árduo voltar ao de cima, descendo sempre mais um pouco e vendo longínquo o topo…
Mas a vida é mesmo assim, um poço cheio que se vai esvaziando…e aos poucos e poucos acaba a fonte e o corpo desfalece, o espírito morre e não passamos de lembranças…humanos tristes que lutam pela vida e morrem na batalha mais fácil…
Despeço-me assim com um beijo duradouro, sentimento que há muito perdi a noção do significado
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